quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Está chegando a hora


Dia 30/10/2009 realizar-se-á o 2º SARAU DA CA DA PONTE e para já entrar no ritmo da poesia segue uma poesia minha recente, que expressa bem meus dias atuais, e que irei declamar por cá.

ENDECHA PARA A TRISTEZA


Hoje,
Não me queiras forte, poderosa
Não me peças um sorriso aberto,
que hoje meu rosto espantalho diluiu
Nem terás o meu sempre de todo dia
Vomitando frases de efeito
auto-ajuda em pílulas
ou filosofias que encontrei num trancelim

Hoje, somente hoje
Não me exijas conselhos, receitas, band-aid
Nem requeiras um ouvido disposto a escutar
Deixe-me parir o grito esdrúxulo que silencia minha voz
E de maneira nenhuma me solicites médica
mãe, amiga, artista, amante
Pois hoje,
meu eu inroível
ruiu

E Pelamordedeus
Não me digas o que devo sentir
Deixe-me voar com minha coleção de elefantes
E com flores mortas no cabelo, pular o abismo
Permitas que as águas nebulosas, o mar bravio,
me inundem os olhos,
E não apagues o fogo coração
que me faz o fígado de Prometeu bêbado
Por que hoje, somente hoje
A tristeza tomou conta de mim...

Mas não te preocupes com este encontro- morte
Por que amanhã, logo cedo
Convido a tristeza para a cama.
Devoro-a com mastigadas amargas
Acendo o cigarro que não fumo,
Olho-a com o repúdio que não aprendi
Viro-lhe as costas
e digo adeus.
04/08/2009

PS. Desde esse dia encontro quase diariamente a tristeza na soleira da porta. E insanamente há dias que jogo tijolos e solto cachorros, para em outros a chamá-la para beber um trago e beijá-la loucamente.

PS.2. Endecha: Composição poética para assuntos melancólicos. Poesia fúnebre de tom melancólico. Canção triste, de tom lamentoso e sentimental

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Degustando poesia em Bento Gonçalves








Amigos,



Estive participando do Congresso Brasileiro de Poesia que ocorreu de 05 a 09/10/09 em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Este Congresso é o terceiro maior encontro de poetas realizado na América Latina, ficando atrás somente do famoso Encontro de Medelín, na Colômbia e a Feira do Livro de Habana. Por ser o maior do Brasil é possível encontrarmos autores das poesias em letras, na poesias visuais, em mímicas, teatro, música e dança e somente sentimos a importância quando tudo acaba e nos deparamos com nossa monotonia diária, esterilizante ou não; é quando a vontade de voltar é imensurável, mas temos de aguardar "chupando o dedo" até o próximo ano...

Um brinde com fotos de lá!!!

jeanne

domingo, 4 de outubro de 2009

SARAU DA CASA DA PONTE






Dia 25/09/09 foi realizado o Primeiro Sarau da Casa da Ponte e a poesia estava no ar na voz madura e sensível de Aglaia Souza, no canto nordestino da Lilia Diniz, no tom bilígue de Flavita Boeckel, na música/poesia/performance- internetizada - de Anand Rao e no meu grito feminino que nesta noite em particular ecoou em homenagem às mulheres. Além dos meu poemas, me fiz presente nas vozes de Adélia Prado e Elisa Lucinda.
A presença dos amigos e do meu filho caçula, Breno, complementou a festa.
Foi um dia especialmente triste por que tomei consciência que tinha de vender a minha Casa da Ponte, mas quem diz que poesia não casa com tristeza?

Segue um poema meu que recitei no evento e tinha tudo a ver com o momento:

AUTORETRATO II
(em dia de faxina)


Nasci sem aviso, sem festa
e em guerra,
Naquele ano que nunca acabou.
Os choros daquela época se multiplicavam
e eu inocente, sem sentir
deixei que o meu choro inicial gerasse tantos
que nunca mais tiveram controle...
E até hoje os encontro,
em todas gavetas que abro

As brincadeiras de esconde-esconde,
com meus irmãos,
me ensinaram a enganar o medo
mas quando este me encontra...
continua me apavorando,
como fazia na infância

Não tive bonecas,
nem quase brinquedos,
Mas logo cedo descobri que podia sumir
viajando com os livros
E desde essa época, tenho a estranha mania,
de os trazer sempre comigo,
de malas prontas,
Para que nunca me prendam
e me impeçam de ir

E assim cresci, cri e amei,
mas por mais que corresse
as cicatrizes me alcançavam
Hoje,
as carrego todas, sem tentar mais fugir
E sabiamente convivo com as marcas,
Pois as físicas,
São tantas,
que já se confundem com a minha pele,
E as outras,
se camuflam,
e já fazem parte de mim

AGOSTO/2006