terça-feira, 9 de março de 2010

Mais Quintana e seus Quintanares


Mário Quintana, nascido em Alegrete (RS) em 30 de julho de 1906 é considerado o poeta das coisas simples, mas com um estilo marcado pela ironia, profundidade e perfeição técnica.

DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!


Trabalhou como jornalista quase que a sua vida toda. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, Mrs Dalloway de Virginia Woolf, além de Voltaire, Maupassant e Balzac.

Em 1940 lançou o seu primeiro livro de poesias: " A rua dos cataventos" , iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. Em 1966 foi publicada a sua Antologia poética, com 60 poemas inéditos, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus 60 anos, sendo por esta razão o poeta saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recita o poema Quintanares, de sua autoria, em homenagem ao colega gaúcho:

Pequeno trecho:

...Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!...

E o poeta como agradecimento fez este, em seu estilo, porém usando a mesma expressão:

CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO
Para Augusto Meyer

Não quero a negra desnuda.
Não quero o baú do morto.
Eu quero o mapa das nuvens
E um barco bem vagaroso.

Ai esquinas esquecidas...
Ai lampiões de fins de linha...
Quem me abana das antigas
Janelas de guilhotina?

Que eu vou passando e passando,
Como em busca de outros ares...
Sempre de barco passando,
Cantando os meus quintanares...

No mesmo instante olvidando
Tudo o de que te lembrares.


Bem, Quintana foi indicado 3 vezes para entrar na Academia Brasileira de Letras e nunca foi aprovado (já naquela época funcionava o lema participa quem pod$, não quem tem direito...)Então, perdida a terceira indicação para aquele sodalício, compôs o conhecido:

Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Prosa e Verso, 1978)

V

Acerca de Mário Quintana


Este ano resolvi homenagear nos saraus os poetas que marcaram minha vida e se Fernando Pessoa é o poeta que mais admiro, Mário Quintana foi o que me ensinou a amar poesia.
Como digo sempre: "fui uma criança atrás de um livro"; desde os 10 anos se estava acordada sem afazeres domésticos ou escolares eu estava lendo. Mas gostava de prosa, queria ser conduzida em início, meio e fim. A poesia não seguia essa lógica, me deixava no ar e me incomodava, era etérea...os argumnentos dos professores de literatura não bastavam, gostava de José de Alencar, Machado de Assis, José lins do Rego, Graciliano Ramos, Aluisio Azevedo...

Aos 18 anos ganhei o livro: Antologia Poética de Mário Quintana e abriu-se uma porta cerrada, um novo mundo fez-se presente e nunca mais me abandonou. A primeira poesia que me tocou a alma ( provavelmente porque abordava o meu universo da leitura) , foi essa:

OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro,
eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então,
essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles
já estava em ti...

terça-feira, 2 de março de 2010

Aglaia Souza em seu canto de poeta


No Sarau da Casa da Ponte deste janeiro uma poeta lançava seu livro: Cantaria, que fazendo jus ao nome é um canto da poeta, que está completando vinte e nove anos de sua arte aqui em Brasília. O livro é uma cantata dividida em: rito, vagar, improviso, antífona e hai kais e vale conferir...
Mas falar de poeta tem de ser com poesia, segue então algumas de sua peças:
Do rito:
Enluarada ou Magia branca em noite de lua cheia

Sem pedir licença
veio ventando
abrindo as portas
de par em par.

Sem nenhum aviso
nem mesmo deu tempo
de apagar a luz,
cortinas cerrar.

Agora o que faço?
As cabras fugiram
as aves voaram,
o medo a girar.

Sem vento, sem chuva,
sem sol, sem ribeiro,
ficou a pergunta
pairando no ar:

se não era meu,
porque me encantou?

A vela derrete,
o cristal se rompe.
Que maga sou eu?
Não sei ler luar.


E do improviso:

Cantabile

O chão canta
um canto de dor
se passa,rasteiro
passageiro cantor.

A voz leve
enleva e some:
só fica nos ares
um aroma e um nome.

A poesia tomou rédeas no 5° SARAU DA CASA DA PONTE








Dia 26 de fevereiro, sexta-feira, realizou-se outra edição do Sarau Casa da Ponte. A noite era de lua cheia, com o céu indeciso entre deixar-se ou não ser tomado pelas nuvens de chuva, mas felizmente venceu as estrelas.
Começamos com meu projeto: Uma noite com o poeta, sendo o homenageado da noite Mário Quintana. Daí segui-se os escritores, que são a alma do sarau e sempre nos prestigiam: Roberto Klotz, Basilina Pereira, Rai Oliveira, Eusanete Sant'Anna e Edson Alves, este último nos levando às risadas com seus textos; tivemos ainda leitura de textos da Helena e da Adriana Moraes.

Eis que de repente todo mundo foi contagiado pelo espírito da poesia e aqueles normalmente ouvintes pegaram o microfone e soltaram o verbo em poemas, recitações, estórias, músicas e a noite tomou-se pela cor da poesia...
Para finalizar magistralmente a atriz: Lidiane Leão nos brindou com sua performance em homenagem a Jorge Amado, com participação de Nando Negreiros.
Bem, como era de se esperar, depois das apresentações a poesia prosseguiu invadindo conversas, comidas, vinhos, encontros...
E no final da noite vários dos presentes me confidenciaram: foi o melhor sarau!
Assino embaixo