domingo, 4 de outubro de 2009

SARAU DA CASA DA PONTE






Dia 25/09/09 foi realizado o Primeiro Sarau da Casa da Ponte e a poesia estava no ar na voz madura e sensível de Aglaia Souza, no canto nordestino da Lilia Diniz, no tom bilígue de Flavita Boeckel, na música/poesia/performance- internetizada - de Anand Rao e no meu grito feminino que nesta noite em particular ecoou em homenagem às mulheres. Além dos meu poemas, me fiz presente nas vozes de Adélia Prado e Elisa Lucinda.
A presença dos amigos e do meu filho caçula, Breno, complementou a festa.
Foi um dia especialmente triste por que tomei consciência que tinha de vender a minha Casa da Ponte, mas quem diz que poesia não casa com tristeza?

Segue um poema meu que recitei no evento e tinha tudo a ver com o momento:

AUTORETRATO II
(em dia de faxina)


Nasci sem aviso, sem festa
e em guerra,
Naquele ano que nunca acabou.
Os choros daquela época se multiplicavam
e eu inocente, sem sentir
deixei que o meu choro inicial gerasse tantos
que nunca mais tiveram controle...
E até hoje os encontro,
em todas gavetas que abro

As brincadeiras de esconde-esconde,
com meus irmãos,
me ensinaram a enganar o medo
mas quando este me encontra...
continua me apavorando,
como fazia na infância

Não tive bonecas,
nem quase brinquedos,
Mas logo cedo descobri que podia sumir
viajando com os livros
E desde essa época, tenho a estranha mania,
de os trazer sempre comigo,
de malas prontas,
Para que nunca me prendam
e me impeçam de ir

E assim cresci, cri e amei,
mas por mais que corresse
as cicatrizes me alcançavam
Hoje,
as carrego todas, sem tentar mais fugir
E sabiamente convivo com as marcas,
Pois as físicas,
São tantas,
que já se confundem com a minha pele,
E as outras,
se camuflam,
e já fazem parte de mim

AGOSTO/2006

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