quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sarau de 50 vozes para 50 anos de Brasília.


Hoje Brasília irá receber uma homenagem, nesses últimos dias do seu mês de aniversário. E a festa será pela boca de 50 poetas que representarão seus 50 anos. Cada poeta escolheu um ano e fiquei com 1992 o ano que cheguei aqui para ficar.

Minha homenagem poética à cidade representa bem o meu amor e encanto a esta menina-senhora. Mas também trás no seu lastro um pouco da terra natal pernambucana...

MINHA BRASÁRGADA

Nas esquinas ausentes
Procuro esta menina
De quadras pareadas
De ruas paralelas
De paralelepípedos verticais
De velocidade controlada

Mesmo sem amizade do rei
Procuro esta dama
A Brasília dos ipês
Das misturas de credos
Dos matizes cantados
Do céu mescladamente ímpar
Das tribos que se unem
Da força do concreto
Da vias arborizadas

Quero-te grandiosa,
Selvagem,
mística
Sempre assim
Repleta de possibilidades
Senhora de mim

Jeanne Maz

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Brasília 50 anos


Impossível estar em Brasília e não se render à sua festa de aniversário.
Amo esta cidade que adotei como minha e na qual quero espalhar minhas cinzas. Amo cada esquina ausente, cada pássaro que me visita em casa, cada céu colorido que me é presenteado todo dia...
Mas por motivos pessoais e por ideologia política resolvi ficar ensimesmada neste dia 21 de abril.
Estava concentrada em meu atelier aproveitando o feriado para responder mensagens, organizar papéis, pôr o dia-a-dia em dias. Nem estava pensando na festa quando a minha secretária me chama:
-Olha!. A esquadrilha da fumaça está fazendo uma apresentação no céu.
Corro munida de máquina fotográfica que é minha mais leal companheira e me deparo com essa imagem no céu:

Bela, simples, poética que, assim como os momentos mais sublimes, acabam de repente dissolvido na fumaça do tempo, mas felizmente marcam a lembrança para sempre...

Sabendo-me piegas repito emocionada a frase que desfazia-se no céu:
Feliz 50 Brasília

No próximo sarau uma homenagem ao amor...


Já registrei que o inverno é minha estação favorita, mas neste ano é para o outono que faço festa. O outono juntamente com o romantismo de Chagall e a brisa das folhas caindo - após uma pausa cinza - trouxe novamente o vermelho do amor...

E a poeta aqui, no momento, incapaz de cantar este amor utiliza-se do último grande poeta romântico, Pablo Neruda, para representá-la. Aliás será este grande ícone latino o poeta homenageado no próximo Sarau da Casa da Ponte que realizar-se-á dia 30/04/10.

Neste texto escolhido o poeta se vale do pensamento que em tudo há dualidade: para existir a luz há de haver a sombra, para existir Deus há que ter o não Deus, para a fé conseqüentemente a não-fé. E o poeta nos fala o que seria um não amor, no grande amor que ele sente.
É o poema 44 do livro: Cem Sonetos de Amor:



Soneto XLIV


Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo todavia.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desditoso.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pirenópolis, cidade antiga com novas descobertas









Brasília é uma ilha dentro de Goiás e frequentemente quando mergulhamos no oceano goiano deparamo-nos com cidades místicas, encantadas, cheias de cachoeiras.

Estive numa delas na Semana Santa última, juntamente com meus filhos e mais uma vez me emocionei com Pirenópolis. A cidade barroca se faz conhecer pelas famosas pedras Pirenópolis muito utilizada nestas bandas. Merece destaque as ladeirinhas de pedra onde lojas de artesanato alternam com bares e restaurantes num colorido divertido e numa hospitalidade convidativa.
No entanto a natureza que a envolve é que é a personagem principal do passeio, são cachoeiras e parques ecológicos imperdíveis e que ainda conservam um toque selvagem.

Como já visitei a cidade mais de 10 vezes as cachoeiras mais conhecidas constituem meu roteiro frequente, mas desta vez resolvemos fazer uma trilha nova e fomos conhecer as Cachoeiras dos Dragões (antigamente conhecida como Cachoeiras da Várzea do Lobo). Essas cachoeiras ficam dentro do Mosteiro Zen, um lugar tranquilo, numa trilha de 4,5km muito gostosa de caminhar e onde vislumbrei as cachoeiras mais bonitas que já conheci.

Acho que por andar com filhos - esses seres especiais que acreditam que os pais são feitos de materiais imperecíveis e indestrutíveis - desafiei minha lógica cartesiana de cuidado pessoal. Fiz trilhas difíceis, fiquei ensopada com banhos de chuvas e cachoeiras no mínimo por 10 horas por dia e no final até boia-cross eu fiz.
Resultado: sobrevivi, não adoeci e desconfio que fiquei mais jovem alguns anos...
Disso tudo fiz até um poetrix:

Como é bom deixar-se levar

Sem grades no próprio corpo
Sem medo do sereno passado
Com o olhar confiante do novo

Encontrei Chagall no dia que seria o sarau...





A ausência no blog justifica-se com duas viagens que fiz, exposições que participei e principalmente o sempre vil metal que nos faz trabalhar demais. Retorno porém repleta de novidades na bagagem da memória, então não faltará assunto...

Em março não houve o Sarau da Casa da Ponte, pois na última semana de março estive em São Paulo, cidade que periodicamente gosto de visitar para peregrinar em museus e teatros.

Desta vez fui para participar de um congresso médico, mas fui um dia antes para desfrutar de exposições. Horas após chegar - no dia que ocorreria o sarau- fui tocada pela obra de Chagall, no Masp. O grande artista russo, que viveu 97 anos - lúcido e produzindo- e que é o símbolo do romantismo nas artes plásticas, mostrava-se em 300 obras no seu mundo mágico de gravuras.Vale ressaltar que para conseguir essas matizes nas gravuras algumas delas precisaram ter 25 pedras-matrize e serem impressas 25 vezes, num trabalho que lhe tomou 4 anos.

Ainda não lembra do artista? É aquele que pinta a tela como se fosse um mural do pensamento, todas idéias jogadas e entrelaçadas, sem preocupação com perspectiva, mas com um colorido de extasiar qualquer um. É muito comum nas suas obras um casal voando abraçado, ou pares em atitudes cúmplices...normalmente eles estão mergulhados em mundos com animais,flores, cidades. Tudo isso é oferecido conjuntamente dando sensação de festa ao onírico, ao exótico, ao distante e magistralmente ao instante...

No final da exposiçãoemocionei-me ao assistir sua última entrevista, realizada um ano antes da sua morte. O réporter lhe perguntava o que ele, um artista de quase um século e que passou por duas guerras, achava mais importante na vida. Chagall abriu o sorriso doce e com olhos de menino instantaneamente respondeu:
- O amor!!!