terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ainda sobre o último sarau


Hoje queria falar do poeta que homenagiei no último Sarau da Casa da Ponte, Oswaldo Montenegro, um letrista estupendo, um poeta magistral...

Lembro-me da primeira vez que tive contato com sua poética, era um domingo e estava assistindo na TV globo o fantástico quando ouvi Bandolins e com meus 11 anos senti uma emoção tamanha que acreditei ser a música feita para mim.
Eu era então uma menina triste, solitária, que adorava dançar escondida na casa pobre...sentia ser a própria menina que valsava ao som dos bandolins e, veramente, naquele noite eu dancei e me julguei, se não amada, pelo menos compreendida...

Anos depois, na semana que pari meu primeiro filho, no momento que me sentia incompetente, imatura e insegura para criar aquele serzinho que tinha ao seio, ganhei de presente um LP do Oswaldo. Coloco-o na vitrola e me deparo com a música: Ao Nosso Filho Morena. E enquanto ouvia a música até furar o LP, enchendo baldes de lágrimas, me conscientizei da força que a arte tem para entender a alma...compreendi naquele momento, sob a voz que refletia minhas angústias secretas, que permaneceríamos (eu e a música do Oswaldo),compartilhando por muito tempo, momentos reais e plenos de poesia, sons e cores.

Compartilho a poesia/música:
Ao Nosso Filho Morena

Se hoje tua mão não tem manga ou goiaba
Se a nossa pelada se foi com o dia
Te peço desculpas, me abraça meu filho
Perdoa essa melancolia

Se hoje você não estranha a crueza
Dos lagos sem peixe da rua vazia
Te olho sem jeito, me abraça meu filho
Não sei se eu tentei tanto quanto eu podia

Se hoje teus olhos vislumbram com medo
Você já não vê e eu juro que havia
Te afago o cabelo, me abraça meu filho
Perdoa essa minha agonia

Se deixo você no absurdo planeta
Sem pique-bandeira e pelada vadia
Fujo do teu olho, me abraça meu filho
Não sei se eu tentei, mas você merecia...

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