terça-feira, 14 de setembro de 2010
Último Sarau da Casa da Ponte
O 9º Sarau da Casa da Ponte foi o último a ser realizado.
Vendi a Casa da Ponte! Com isso mudarei de endereço, de fase, de história.
Preciso de sossego e paz, neste momento, para dedicar-me à medicina e à
minha arte. Não quero nada que me desfoque do objetivo. Preciso de tempo
comigo mesma...
Por ser o último Sarau da Casa da Ponte, como sempre, escolhi um poeta
para homenagear. A escolha desta vez baseou-se em pura paixão. Escolhi um poeta
que talvez mais se identifique com a minha jornada até aqui. Um grande artista,
mais conhecido como músico,mas que consegue magistralmente expressar em letras o drama e a aventura do cotidiano de nós: Oswaldo Montenegro. Segue um poema dele que gosto muito
Metade
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
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