sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa: 72 poetas num só...


No Saurau da Casa da Ponte de Janeiro/2010 iniciei um projeto de homenagear um poeta por mês e como primeira escolha o fazemos àquele que nos toca mais a alma, não poderia deixar de ser FERNANDO PESSOA, para mim o melhor...

Se não concorda com minha opinião, mas há de concordar que definitivamente o maior ele foi, posto que foi 72 heterônimos, sendo os mais famosos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Segue um texto de explicação transcrito com as palavras do poeta:

"Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre: Albert Caeiro. Foi essa a sensação imediata que tive...
... Aparecido Alberto Caeiro tratei logo de lhe descobrir –instintiva e subconsciente - uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e á máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos - a ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
...E parece que tudo se passou independente de mim. E parece que ainda se passa...


Meu preferido é Álvaro de Campos, como diz o poeta(o mais histericamente histérico de mim). Segue uma poesia dele que declamei, das minhas favoritas, que declamei no sarau:

Lisbon revisited (1923)

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
...

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