domingo, 1 de novembro de 2009

Poesia para Casa da Ponte


Bom Dia de Todos os Santos,

Desde que comecei a fazer poesia tento desenterrar minha infância dolorosa, mas tropeçava demais em mágoas e não obtinha sucesso. Consegui enfim, após cinco anos, fazer este poema como um crédito ao recomeço de uma nova infância, que era a inauguração da Casa da Ponte.
Mas todo mundo que me achegou achou-a muito triste, amarga e parecia não refletir a jeanne que eles conheciam.
Matutei muito a respeito dela e acho que hoje consegui colorir com minhas cores. Acho que é reflete realmente a estrada percorrida. Espero que gostem:


DA INFÂNCIA QUE NÃO TIVE
(Ou será que foi assim?!?)

Jeanne Maz

Era uma casa com quintal pequeno que encolhia a cada dia
Onde havia uma mãe enclausurada em ausências
Um pai sem caramelo que na violência imperava
A avó de cabelos cacheados que empurrava o balanço
Irmãos voando comigo entre pipas e bolas de gude
E o mar de Olinda que se perdeu nos meus olhos

Entre nós um bicho-papão que alimentava meus medos
As bonecas e brinquedos que nunca ganhei
Os carinhos e elogios que se fecharam atrás da porta
As melhores notas que não obtinham sorrisos
O papai-noel que jamais chegou
A estrela do mar que não encontrei
O som de ninar que nunca ouvi
A bailarina que não pude ser

A boneca feia de perna quebrada e marcas roxas
cantava um hino sob o sol de Teresina e a bandeira do Brasil
vestida de Kichute, conga, tergal e um relógio na areia
Na casa trancaram a alegria e os risos na porta fechada
Mas os xingamentos continuavam a voar no teto
Junto às borboletas que eu caçava na floresta

A fada-madrinha sabedora do choro engolido da boneca
Tirou mazelas, concedeu presentes
Com a palha, a cerâmica e a tapeçaria vestiu a pele roxa
Fez o som e as cores do nordeste na carruagem de abóbora
Transformou meu príncipe ausente em livros
para que fique comigo, para sempre
Ainda deu-me gatos para conversar
e minha vó, Maria Ana para colorir
uma das folhas da infância

E a casa?
De tão pequena encolheu!
O sol do Piauí me engrossou a pele
Meu pai deu sumiço nos gatos
A chave da porta eu nunca encontrei
A avó morreu, mas inconteste
vive no baú colorido
E a boneca que continua com perna quebrada até hoje
Foi para Brasília
Vomitou a maçã envenenada
Resgatou o sapato vermelho perdido
Jogou as tranças num falario de cores
Concebeu dois bonecos brilhantes
Encontrou elefantes azuis
Descobriu a alegria nos amigos encantados
E sorrindo convidou todos para um grande baile
no Atelier da Casa da Ponte
01.10.09

2 comentários:

Escola Dr. João Alfredo disse...

Sempre me encontro nos teus poemas, tem um quê conhecido nos teus versos que me emocionam, sempre me toca as dores que moldaram aquela menininha e a transformaram num modelo de ser humano...
bjus

Escola Dr. João Alfredo disse...

Sempre me encontro nos teus poemas, tem um quê conhecido nos teus versos que me emocionam, sempre me toca as dores que moldaram aquela menininha e a transformaram num modelo de ser humano...
bjus